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UMA HERANÇA HISTÓRICA

REALIDADE DE RETOMADA

RAIZ ESSENCIAL DO BRASIL

Uma visita ao Vale do Café é uma experiência inesquecível. Saborear a plácida paisagem em vales convidativos, sentir o aroma do campo e o vigor do café a sustentar as edificações históricas e fazendas , que guardam o apogeu de uma época imperial, são sensações do visitante que desbrava a região.

O Vale do Café ganhou notoriedade como ponto focal de um dos ciclos econômicos mais importantes da nossa história. Foi no século 19 que a aristocracia cafeeira erigiu sob a insensatez da escravidão, um vigoroso polo produtor do “ouro verde” que alçou a região às margens do Rio Paraíba do Sul, como líder mundial de exportação do café no apogeu do período entre 1850 e 1870.

O café sustentou econômica e politicamente o Império Brasileiro. A pujança dos títulos nobiliárquicos não acompanhava na mesma medida, o cuidado com o tratamento do solo. As agressivas técnicas agrícolas se somavam em violência aos absurdos da escravidão. Em conjuntura de derrocada, o cenário do declínio foi marcado entre outros fatores por uma crise política (fim do Império)e econômica (cafeicultores endividados e solo desgastado).
A ruína da economia do Sul – Fluminense , reduziu drasticamente sua produção, deixando sob suspeita a gloriosa alcunha alcançada de Vale do Café.

Retomada em novos tempos, com novas técnicas

PORQUE AINDA SOMOS O VALE DO CAFÉ

A retomada da cafeicultura na região do Vale do Café, é um fato inconteste. Acontece a partir de um binômio que resgata a falta do agir sustentável no século 19, em relação ao solo e a exuberante Mata Atlântica que heroicamente resistiu no território, e uma nova característica do café, que sai da larga escala da exportação para um café selecionado, premium, que agrada aos mais exigentes paladares. A Fazenda Taquara, em Barra do Piraí, reiniciou o plantio do café no Vale há mais de 20 anos. Foi a primeira e com resiliência, venceu as adversidades. Os novos tempos dão margem a muita celebração.

É o que atesta também Sônia Mattos atual presidente do Conselho Municipal de Turismo de Valença. “Estamos em novo momento, não apenas porque a produção vem se destacando pela qualidade dos cafés especiais aqui produzidos, como porque esta atividade agrega muito ao produto turístico, que conta, através do patrimônio interpretado, a história que define a região: o Ciclo do Café. A volta da cafeicultura corrobora com a narrativa histórica e cultural do Vale.”

Fazendas e cafés premiados

UM DESTINO INESQUECÍVEL COM PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS

Atualmente, segundo pesquisa do Sebrae, existem cerca de 20 propriedades, entre históricas e convencionais, envolvidas no cultivo de café. No Vale do Café é possível encontrar cafés com alto valor agregado, com grãos selecionados, especiais, gourmets, orgânicos, certificados e até premiados.

Apesar de representar apenas 1% do café produzido no estado do Rio, o Vale do Café consegue obter a melhor qualidade em seus grãos, tendo destaque em concursos estaduais e nacionais. É o caso da premiada produção do Hotel Fazenda Florença, que como a maioria , cultiva a espécie arábica, de origem etíope. A Florença aposta em um diferencial, o cultivo do café em sistema de agro floresta, unindo a agricultura à preservação e à recomposição ecológica com espécies nativas.

Paulo Roberto Santos, proprietário da Fazenda Florença explica o processo: “Para se obter um café especial, ele precisa ser colhido maduro, não pode ter defeitos, ter sido atacado por insetos que causam deformidade nos grãos. Precisa apresentar um aspecto de forma e cor compatíveis com cafés colhidos maduros. O café verde não é um café que consiga boa pontuação. Para se ter um café premiado você precisa ter uma pontuação acima de 86 pontos.

Sobre a técnica do sombreamento, Paulo Roberto dá a boa dica: “Quando se fala de café sombreado é um sombreamento relativo. Precisa-se de claridade. Ao sombrear você planta árvores com mudas da Mata Atlântica e árvores  frutíferas, com isso garante-se a volta de animais silvestres e melhor a também a flora. Um equilíbrio ecológico que vai impactar também no solo. Mais permeável e com um bom lençol freático o café cresce em boas condições para se tornar especial. ”

Resgate: o café volta ao seu berço

AVANÇO DO TURISMO NO VALE

A retomada do café no Vale do Café, sinaliza momentos decisivos para a qualificação do destino turístico. Desde o ano passado o Arranjo Produtivo Local do Café, criado no Fórum da Câmara Municipal de Vassouras / RJ com a congregação de muitas forças, trouxe importante contribuição. A iniciativa somou á época diversas secretarias do Governo do Estado do Rio, envolvendo as secretarias do desenvolvimento econômico a agricultura e o turismo. Também mobilizou significativos parceiros técnicos , como o Sebrae, a Emater, Pesagro, Ascarj, Universidade de Vassouras e o Convention & Visitors Bureau do Vale do Café.

A iniciativa apoia quem já produz o café e incentiva novos produtores. Wanderson F arias, pioneiro da APL do Café, vinculado à Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro diz que o projeto é auspicioso: “Novos produtores estão aderindo ao projeto que une a agricultura a uma vocação histórica do Vale do Café. Rotineiramente organizamos encontros nas fazendas da região para sensibilizar possíveis novos produtores.”

A volta da produção do nobre grão em território de fazendas históricas, palacetes urbanos dos aristocratas do café e o gigantesco legado de cultura e tradições a partir da composição social que marcou o território do Vale do Café, é sinal de que a cafeicultura volta ao seu berço.

Consolida-se a vocação regional do turismo de habitação e rural que corrobora com a narrativa de um destino único. Raiz essencial do Brasil, território cenário de dois grandes ciclos econômicos, ouro (colonial) e café (imperial), o Vale do Café, reescreve a própria história e com o renascimento do café, vê o passado se projetar sobre o presente, alavancando um futuro promissor.

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